Delegado é preso acusado de espionagem
Segundo a PF, policial de SP integra o grupo de Eloy Ferreira e Francesco Maio, tidos como os arapongas mais atuantes no país
De acordo com a investigação da Polícia Federal, os três faziam espionagem para empresários, banqueiros, políticos e até policiais civis
O delegado da Polícia Civil de São Paulo Orivaldo Baptista Sobrinho foi preso temporariamente -por cinco dias- ontem pela Polícia Federal, em Belo Horizonte, sob a acusação de integrar uma quadrilha especializada em espionagem.
O grupo, segundo investigações da PF, é liderado pelos detetives particulares Eloy de Lacerda Ferreira e Francesco Maio Neto, considerados os arapongas mais atuantes do país atualmente.
Segundo a PF, os três faziam espionagem para empresários, banqueiros, políticos e até mesmo policiais civis.
Sobrinho, Ferreira e Maio Neto foram indiciados, segundo apurou a Folha, pelos crimes de quebra de segredo de Justiça, interceptação clandestina de comunicações telefônicas e formação de quadrilha.
O delegado nega as acusações. A Folha não conseguiu localizar os advogados de Ferreira e Maio Neto.
Ferrari e Mercedes-Benz
Nas buscas feitas pela PF na casa do araponga Ferreira, no Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, na semana passada, foram encontrados uma Ferrari, avaliada em R$ 650 mil, e um Mercedes-Benz, avaliado em R$ 100 mil.
Os acusados, de acordo com as investigações, atendiam de casos conjugais a questões de espionagem industrial. Cobravam até R$ 16 mil por 15 dias de interceptação telefônica, ainda segundo a PF.
A PF chegou ao grupo ao investigar, com interceptação telefônica autorizada pela Justiça Federal, pessoas envolvidas no comércio e na exportação de café suspeitas de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Neto, segundo as investigações, fazia serviços de espionagem para esses empresários e descobriu que seus clientes estavam sendo monitorados e os avisou sobre a investigação.
A PF, porém, soube do alerta feito por Neto aos seus clientes e, a partir disso, iniciou uma investigação paralela, que culminou na Operação Ferreiro. A PF interceptou a comunicação dos arapongas, o que levou ao pedido de prisão de 17 suspeitos de espionagem.
O inquérito que resultou nas prisões deles tramita em sigilo na 4ª Vara Federal de Belo Horizonte. O araponga Ferreira foi preso na quarta-feira, quando, a exemplo do delegado Sobrinho, se apresentou ao delegado federal Marcílio Miranda Zocrato para ser interrogado.
Ferreira já responde a outro processo, também por realizar escutas telefônicas clandestinas, na 14ª Vara Criminal de São Paulo.
O delegado e os dois arapongas estão presos na penitenciária Nelson Hungria, na região metropolitana de Belo Horizonte. Dois outros arapongas são procurados pela PF. Ao todo, já são 15 os presos por suspeitas de espionagem.
Entre os suspeitos de espionagem também estão pessoas ligadas a operadoras de telefonia, que facilitavam o trabalho de interceptação telefônica para os acusados de espionagem.
Os funcionários das operadoras de telefonia são suspeitos de fornecer, por exemplo, a localização de caixas de telefones -o que facilita a realização das interceptações telefônicas clandestinas.
Nos depoimentos prestados pelos arapongas presos, eles alegaram que só trabalham com autorizações judiciais.